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Mostrando postagens de abril, 2017

Freud e a transitoriedade do belo: prazer e desprazer na contemplação estética

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A beleza do mundo natural e das criações artísticas serão um dia reduzidas a nada. Mesmo que o tempo não lhes modificasse, que uma nova era geológica não lhes transformasse ou que a própria ação humana não lhes destruísse, é certo que nossa estrela, o sol, em bilhões de anos deixará de emitir sua luz e calor, que toda forma de vida em nosso planeta será extinta e que, com isso, não haverá mais nenhuma lembrança de tudo que se passou neste planeta. Parece injusto, contudo, que tanta beleza tenha que deixar de existir. Que tanta perfeição não tenha propósito e seja, no fundo, sem nenhum sentido. São exigências de nossa razão prática, e quando a realidade desaponta uma ilusão, segue-se um estado de tristeza e vazio. A experiência psicológica de contemplar a beleza, ser afetado por ela e, ao mesmo tempo, sentir-se melancólico pela projeção de um fim que talvez nem venhamos a testemunhar abriga duas tendências simultâneas: o prazer da contemplação estética e o desprazer por uma fal...

Confissão, de Charles Bukowski

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Confissão (Charles Bukowski) À espera da morte como um gato que saltará sobre a cama Sinto terrivelmente por minha esposa Ela verá este corpo duro e branco Vai sacudi-lo uma vez, depois quem sabe outra: "Hank!" Hank não responderá. Não é minha morte o que me preocupa, é minha mulher abandonada com este monte de nada. Quero no entanto que ela saiba que todas as noites dormindo ao seu lado Que mesmo as discussões inúteis sempre foram esplêndidas E que as palavras difíceis que sempre temi dizer podem agora ser ditas: Eu te amo.

A misologia, ou o ódio à razão

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Misologia é um termo criado por Platão para indicar o ódio à razão, ou o ódio aos raciocínios. Segundo o discípulo de Sócrates, "a misologia nasce da mesma forma que a misantropia" (Fédon, 89 d-90 b). Assim como a misantropia nasce de se ter confiado em alguém sem discernimento, a misologia nasce de se ter acreditado, sem possuir a arte do raciocínio, na verdade de raciocínios que depois se mostraram falsos. A misologia se originaria de uma "desilusão" com a capacidade da razão. No texto em questão, Sócrates, esperando em sua cela o momento de sua morte e conversando com alguns visitantes sobre a imortalidade da alma, adverte sobre o perigo da misologia, fazendo uma analogia entre esta e a misantropia, ou o ódio aos seres humanos. O que esta passagem parece sugerir é que, do ponto de vista moral, o ódio à razão seria tão condenável quanto o ódio às pessoas: — Mas, antes, tomemos cuidado para que não nos venha a acontecer um desastre. — Qual? — pergunt...

Nietzsche e "Deus como aranha"

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"O conceito cristão de Deus – Deus como Deus dos doentes, Deus como aranha, Deus como espírito – é um dos mais corruptos conceitos de Deus que sobre a Terra se obtiveram: representa até, possivelmente, o mais baixo nível da evolução declinante do tipo divino. Deus degenerado em contradição com a vida, em vez de ser a sua glorificação e o seu eterno sim! Expresso em Deus o ódio à vida, à natureza, à vontade de viver! Deus, a fórmula para toda a difamação do 'aquém', para toda a mentira do 'além'! O nada divinizado em Deus, a vontade do nada santificada!..." (Nietzsche, O Anticristo) No aforismo XVIII de O anticristo , Nietzsche usa uma imagem peculiar para se referir ao conceito cristão de Deus: a aranha. É uma imagem forte, de impacto, e que em uma primeira leitura de sua obra nos detém por alguns segundos indagando: por que seria Deus uma "aranha"? Qual a relação entre as duas coisas? O que o filósofo alemão quer expressar com isso se to...