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A imutabilidade de Deus em "A República", de Platão, e a análise lógica de Boole

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Argumentos longos e complexos constituem um desafio à verificação de sua formação e validade, demandando tempo, atenção e rigor para que sejam testados. Apresentamos, abaixo, um exemplo de como aplicar uma análise lógica em um argumento extenso a fim de verificar sua coerência. O texto foi extraído do Livro II de A República , de Platão, e apresenta um diálogo entre Sócrates e Adimanto, no qual o filósofo de Atenas argumenta que Deus é imutável. Logo após apresentamos a formalização deste argumento realizada pelo lógico George Boole, já no século XIX, a qual revela a impecável  forma do raciocínio de Platão. Sócrates — Vejamos agora a segunda regra. Acreditas que Deus seja um mágico capaz de assumir, perfidamente, formas variadas, ora de fato presente e transformando a sua imagem numa infinidade de figuras diferentes, ora enganando-nos e mostrando de si mesmo apenas simulacros sem realidade? Não será antes um ser simples, de todo incapaz de deixar a forma que lhe é própr...

A arte de ter razão, de Schopenhauer

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"Isso funciona na teoria, mas na prática, não". Sempre fiquei muito incomodado ao ouvir este sofisma como resposta a uma exposição teórica. Mas a primeira vez que constatei o que havia de exatamente errado neste sofisma, e também como respondê-lo, foi ao ler a obra "A arte de ter razão", do filósofo alemão Artur Schopenhauer (1788-1860) (esta obra tem uma outra tradução para o português, com o título "Como vencer um debate sem precisar ter razão"). Este pequeno livro, publicado postumamente, é na verdade uma lista de 38 estratagemas para debates, com a única finalidade de vencê-los - estando ou não com a razão. Mas também é, principalmente e antes de tudo, um manual de defesa para estes mesmos ataques que são aqui desmascarados. Reproduzo abaixo um resumo de alguns desses estratagemas, juntamente com aquele no qual ele refuta o famoso sofisma "isso funciona na teoria, mas na prática, não" (estratagema 33). Estratagema 1 A exp...

Alguns exemplos de falácias

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Falácia é o termo com que os escolásticos indicaram o “silogismo sofístico” de Aristóteles. Segundo Pedro Hispano, é a “idoneidade fazendo crer que é aquilo que não é, mediante alguma visão fantástica, ou seja, aparência sem essência.” Apesar de muito cultivada na idade média, a doutrina das Falácias perdeu quase toda a importância na lógica moderna, visto não poderem ser reduzidas a sofismas as antinomias de que ela trata. (ABBAGNANO, 2007)  Afirmação do consequente Há vários tipos de falácias, e diferentes autores adotam diferentes sistemas de classificação e categorização. Segundo Moreland e Craig (2005), dentre as chamadas falácias formais, uma das mais comuns é a afirmação do consequente . O modus ponnens , regra lógica na forma P è Q, declara que se afirmamos o antecedente P como verdadeiro, então o consequente Q também o será. No entanto, se afirmamos Q como verdadeiro, isso não traz nenhuma implicação ao valor de P, como demonstrado no seguinte exemplo:  - Se Deus f...