Falácia é o termo com que os escolásticos indicaram o “silogismo sofístico” de Aristóteles. Segundo Pedro Hispano, é a “idoneidade fazendo crer que é aquilo que não é, mediante alguma visão fantástica, ou seja, aparência sem essência.” Apesar de muito cultivada na idade média, a doutrina das Falácias perdeu quase toda a importância na lógica moderna, visto não poderem ser reduzidas a sofismas as antinomias de que ela trata. (ABBAGNANO, 2007)
Há vários tipos de falácias, e diferentes autores adotam diferentes sistemas de classificação e categorização. Segundo Moreland e Craig (2005), dentre as chamadas falácias formais, uma das mais comuns é a afirmação do conseqüente. O modus ponnens, regra lógica na forma P è Q, declara que se afirmamos o antecedente P como verdadeiro, então o conseqüente Q também o será. No entanto, se afirmamos Q como verdadeiro, isso não traz nenhuma implicação ao valor de P, como demonstrado no seguinte exemplo:
Se Deus for infinito, então ele será intrinsecamente imutável.
Deus é intrinsecamente imutável.
Ele é infinito.
Se Deus for infinito, ele será intrinsecamente imutável. Mas isso não significa que se ele for intrinsecamente imutável, ele será, portanto, infinito. Logo, essa é uma falácia de afirmação do consequente.
Já dentre as chamadas falácias informais, encontramos a falácia genética, que é uma falha de argumentação que julga ser uma crença equivocada ou falsa devido ao modo como ela se originou. É um tipo de argumento que parece ser usado por alguns sociobiólogos, por exemplo, ao afirmarem que por serem as crenças morais moldadas através de influências biológicas e sociais, as mesmas não são crenças objetivamente verdadeiras.
Uma outra falácia informal, a petição de princípio (petitio principii), ocorre quando a única razão para pensar que uma premissa em um argumento é verdadeira é a crença de que a conclusão seja verdadeira (MORELAND, J.P.; CRAIG, William Lane, 2005). Ela é ilustrada no seguinte argumento:
Ou Deus existe ou a lua é feita de queijo verde.
A lua não é feita de queijo verde.
Logo, Deus existe.
De acordo com Nolt e outros (1976), as chamadas falácias de relevância ocorrem quando um argumento não leva necessariamente à sua conclusão. São também chamadas de “non sequitur”, que significa, em latim, “não se segue”. Um exemplo de falácia de relevância é a ad hominem (que significa “contra a pessoa”).
João é a favor do tratamento do reservatório de água da cidade com flúor.
João é um ladrão.
Logo, não devemos tratar o reservatório de água da cidade com flúor.
Mesmo se João for um ladrão, isso não traz nenhuma implicação à questão sobre se o reservatório de água deve ou não ser tratado com flúor.
Um outro exemplo de falácia de relevância é a tu quoque (“você também”), que tenta refutar um argumento atacando o seu proponente sob a acusação de que ele é um hipócrita, ou tem um duplo padrão de comportamento. A implicação é que o proponente é desqualificado para tentar estabelecer um princípio.
Jones acredita que devemos nos abster de bebida alcoólica.
Jones está sempre bêbado.
Logo, não devemos nos abster de bebida alcoólica.
As atitudes de Jones não têm nenhuma implicação sobre a veracidade ou falsidade de suas crenças, mesmo que ele as sustente hipocritamente.
Argumentos ad verecundiam (“apelo à autoridade”) também podem ser classificados como non sequitur, e ocorrem quando aceitamos ou rejeitamos um argumento devido apenas ao prestígio, status ou respeito que temos em relação aos seus proponentes.
Meu professor diz que eu deveria ter orgulho de ser americano.
Logo, eu devo ter orgulho de ser americano.
A premissa é simplesmente irrelevante para a conclusão. As coisas não são de determinada maneira apenas porque alguém diz que elas são ou devem ser assim, não importa quão eminente seja o interlocutor.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MORELAND, J.P.; CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão cristã. 1 ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 2005.
NOLT, John; ROHATYN, Dennis; VARZI, Achille. Theory and problems of Logic [Schaum’s Outlines]. 2 ed. New York: McGraw-Hill, 1976.
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