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Mostrando postagens de abril, 2020

Precisamos de amigos para viver feliz? Sêneca sobre Epicuro e a amizade

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Nos três últimos anos de sua vida, o filósofo romano Sêneca (4 a.C. – 65 d. C.) trocou uma série de correspondências com um destinatário chamado Lucílio. Dele sabemos apenas que foi um procurador romano na Sicília, e além dessas cartas, nenhuma outra fonte da antiguidade o menciona.  Mestre e discípulo conversavam sobre diversos assuntos. Em uma dessas cartas – cuja existência conhecemos apenas pelas referências de Sêneca -, Lucílio pergunta se o filósofo grego Epicuro tinha razão ao afirmar que o sábio bastaria a si mesmo, e que não precisaria de nada externo a si para viver feliz, nem mesmo de amigos. Seria possível uma vida sem amigos? Precisamos deles para ter uma vida plena e feliz?  Sêneca responde que a reflexão de Epicuro deve ser entendida no sentido de que, mesmo que o sábio se baste a si mesmo e possa viver sem amigos, ele não deseja isso. Tomada em seu contexto, a afirmação é uma resposta aos estoicos, os quais afirmavam que a ataraxia , ou uma paz inter...

Ser e verdade em Heidegger: a metafísica e o esquecimento do ser

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Ser e tempo , de Heidegger, figura como um dos livros mais importante da filosofia dos últimos três séculos. Publicada em 1927, esta obra pode ser caracterizada como um programa de destruição da metafísica, o que Derrida chama de “projeto de desconstrução”. Heidegger, um anticartesiano, desenvolve aqui uma crítica da filosofia moderna, e em especial da divisão sujeito-objeto. Embora extremamente influente em diversas áreas do saber por todo o século XX, Ser e tempo teve sua tradução iniciada no Brasil por Fausto Castilho na década de 1940, mas só foi publicada em 2012.  A metafísica, segundo Heidegger, se caracterizaria pelo esquecimento da questão do ser. A afirmação pode parecer paradoxal, mas por "metafísica" Heidegger tem uma compreensão ampla, compreendendo a história da filosofia ocidental. Será a diferença entre ser e ente o que levará Heidegger a dar um “passo atrás” em relação à metafísica tradicional: ao invés de se voltar, como esta, ao ente, ele se volta a...

Lógica filosófica

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Ao invés de seguir a gramática cegamente, o lógico deve, ao contrário, ver sua tarefa como sendo a de nos libertar dos grilhões da linguagem (Frege, 1897:143) A velha lógica colocou o pensamento em grilhões, enquanto a nova nos dá asas. (Russell, 1914:68) 1. Introdução O primeiro uso da frase “lógica filosófica” de que tomei conhecimento está em um ensaio semipopular de Bertrand Russell chamado Lógica como a essência da filosofia (1914). Russell e outros vinham praticando a lógica filosófica por anos, mas não foi até este ensaio que Russell identificou e rotulou o que ele considerava ser uma abordagem distintiva da filosofia como um todo. A lógica filosófica, como Russell a concebeu, era o programa de resolução de problemas filosóficos tradicionais através da descoberta e da classificação de formas lógicas, e esta preocupação com formas lógicas se tornou uma característica central e peculiar da filosofia analítica no século XX. Filósofos analíticos fazem outr...