Ser e tempo, de Heidegger, figura como um dos livros mais importante da filosofia dos últimos três séculos. Publicada em 1927, esta obra pode ser caracterizada como um programa de destruição da metafísica, o que Derrida chama de “projeto de desconstrução”. Heidegger, um anticartesiano, desenvolve aqui uma crítica da filosofia moderna, e em especial da divisão sujeito-objeto. Embora extremamente influente em diversas áreas do saber por todo o século XX, Ser e tempo teve sua tradução iniciada no Brasil por Fausto Castilho na década de 1940, mas só foi publicada em 2012.
A metafísica, segundo Heidegger, se caracterizaria pelo esquecimento da questão do ser. A afirmação pode parecer paradoxal, mas por "metafísica" Heidegger tem uma compreensão ampla, compreendendo a história da filosofia ocidental. Será a diferença entre ser e ente o que levará Heidegger a dar um “passo atrás” em relação à metafísica tradicional: ao invés de se voltar, como esta, ao ente, ele se volta ao ser. Logo nos primeiros parágrafos de Ser e tempo Heidegger tenta provar a existência do mundo, indicando que ele pretende falar sobre o ser, sobre o mundo. Pode-se considerar a obra como uma analítica do Dasein. Este Dasein não é, entretanto, uma pessoa, um ser humano (o que não estaria em consonância com o anti-humanismo heideggeriano). O Dasein é um ente aberto.
Heidegger pretende fazer uma ontologia fundamental. A questão do ser não é uma questão do conhecimento, indo muito além deste. A ontologia heideggeriana deve ser abordada como uma ontologia da relação, isso é, da relação entre ser e ente. Outra característica de seu pensamento ontológico é que nunca se pode substancializar o ser, ponto em que ele discorda de Sartre que, em sua obra O ser e nada, procedeu a uma “entização” do nada, na interpretação de Heidegger.
Em A essência da verdade, Heidegger busca responder à questão “O que é a verdade?”. A pergunta sobre a verdade é uma pergunta sobre onde hoje nos encontramos. O filósofo alemão quer propor quase um conceito prático de verdade, e relaciona verdade e existência. A essência da verdade é a liberdade, que em Kant é a filosofia prática. Neste ponto Heidegger questiona a oposição entre filosofia teórica e filosofia prática, e afirma que o momento da experiência é anterior a esta separação sujeito-objeto, tão comum na filosofia moderna e, especialmente, no idealismo alemão anterior a Hegel.
A essência da verdade é a liberdade, a qual é, por sua vez, um deixar ser o ente (sein lassen). Heidegger questiona assim a antiga concepção de verdade como adequação, ressaltando a oposição entre adequação e aletheia. Heidegger recusa a tradução do substantivo grego aletheia por Wahrheit, adotando então o significado de Unverborgenheit, isso é, desvelamento, desocultação, desencobrimento.
Para o senso comum o verdadeiro é o real, mas este posicionamento ingênuo diante do mundo não consegue apreender a oposição entre verdade e realidade. Para ilustrar esta diferença, Heidegger pergunta qual é a real diferença entre um ouro real e um ouro falso, se ambos existem da mesma forma. Ele conclui que apenas o ouro real é autêntico, embora ambos existam.
Se a essência da verdade é a liberdade, como afirmado anteriormente, esta verdade, no entanto, seria ainda mais estética do que prática. O conhecimento é uma relação de dominação, e aqui Heidegger ressalta a oposição entre a primeira e a terceira críticas de Kant. Na Crítica da razão pura tem-se o conhecimento como apropriação, enquanto que na Crítica do juízo, trata-se das relações estéticas. Para Heidegger, é como se a filosofia tivesse perdido seu poder de dizer o ser.
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