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Mostrando postagens de setembro, 2016

A imutabilidade de Deus em "A República", de Platão, e a análise lógica de Boole

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Argumentos longos e complexos constituem um desafio à verificação de sua formação e validade, demandando tempo, atenção e rigor para que sejam testados. Apresentamos, abaixo, um exemplo de como aplicar uma análise lógica em um argumento extenso a fim de verificar sua coerência. O texto foi extraído do Livro II de A República , de Platão, e apresenta um diálogo entre Sócrates e Adimanto, no qual o filósofo de Atenas argumenta que Deus é imutável. Logo após apresentamos a formalização deste argumento realizada pelo lógico George Boole, já no século XIX, a qual revela a impecável  forma do raciocínio de Platão. Sócrates — Vejamos agora a segunda regra. Acreditas que Deus seja um mágico capaz de assumir, perfidamente, formas variadas, ora de fato presente e transformando a sua imagem numa infinidade de figuras diferentes, ora enganando-nos e mostrando de si mesmo apenas simulacros sem realidade? Não será antes um ser simples, de todo incapaz de deixar a forma que lhe é própr...

O bom nazista - reflexões com Hannah Arendt sobre a banalidade do mal e Eichmann em Jerusalém

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Talvez não seja nenhum exagero afirmar que a maioria dos nazistas eram boas pessoas. Em sua intimidade, em sua vida familiar ou em sua relação com os vizinhos, talvez aquelas multidões que vemos nos registros das manifestações nazistas fossem compostas, em quase sua totalidade, por pessoas honestas, trabalhadoras, solidárias, bons pais, boas mães, bons vizinhos e bons filhos. A imagem que temos dos nazistas como monstros me parece uma simplificação grosseira do fenômeno. O mecanismo psicológico que leva alguém a tratar nazistas como monstros é rudimentar, primitivo, arcaico, e um de seus usos pode ser observado, por exemplo, na construção das histórias infantis. É característico dos contos de fadas representarem seus personagens de maneira inequívoca, sem ambiguidades de caráter. Tendo como principal público as crianças, ainda psicologicamente incapazes de discernir nuances nas personalidades dos caracteres, a inteligibilidade desses contos exige que uma bruxa má, por exemplo, sej...

Psicanálise: clínica & pesquisa, de Luciano Elia

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Em Psicanálise: clínica & pesquisa , Luciano Elia se propõe a demonstrar em que medida a pesquisa se impõe à prática em psicanálise, revelando como a pesquisa é uma dimensão essencial da práxis analítica. Além disso, o autor articula o conceito de sujeito na ciência e na psicanálise e discorre sobre diversos aspectos sócio-econômicos implicados em uma concepção teórica elitista da psicanálise.  A psicanálise é uma ciência? Um importante aspecto a se considerar na questão é que a psicanálise deriva da ciência, mas não se reduz a ela. Apesar da aspiração de Freud a que a psicanálise fosse reconhecida como uma ciência, do ponto histórico em que estava não lhe era possível extrair todas as conseqüências desse seu passo. Lacan então interroga: que ciência poderia incluir a psicanálise? A resposta é que nenhuma das ciências é capaz de responder à questão que a psicanálise lhes coloca, constituído esta, então, uma derivação e uma ultrapassagem da ciência. A psicanálise,...