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Mostrando postagens de novembro, 2009

Complexo de vira-lata

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Parece ser uma necessidade psicológica da direita brasileira, classe histérica e raivosa, perpetuar o que Nelson Rodrigues identificava no povo brasileiro como "complexo de vira-lata". Nelson definia esse complexo como "a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo". Em nossa história recente tivemos várias campanhas publicitárias, a exemplo do slogan "sou brasileiro e não desisto nunca", para aumentar a nossa auto-estima. Mas perpetuar esse complexo não é apenas uma necessidade psicológica da direita. Não permitir que o brasileiro o supere também faz parte do projeto da burguesia nacional para o país. Qual é esse projeto? O projeto é justamente não ter projeto. É deixar que alguém "com mais capacidade" cuide disso. É vender o Brasil inteiro para que cuide dele "quem tem competência". Ela precisa convencer o resto do país de que somos todos um bando de incapazes, assim como eles, e que se não...

"A metamorfose", de Franz Kafka: Gregor Samsa como um símbolo do conceito marxista de alienação

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A obra "A metamorfose", de Franz Kafka, é um clássico no gênero de ficção simbólica experimental que surgiu no início do século XX. Seguindo estreitamente as teorias da alienação do trabalhador, de Karl Marx, o protagonista da história, Gregor Samsa, é a personificação do sufocamento da alma em meio à revolução industrial. O mais irônico na leitura de "A metamorfose" é que Gregor Samsa passa por uma metamorfose apenas no sentido físico; filosoficamente Gregor sempre foi um inseto e o fato de fisicamente se tornar um não altera em nada a sua apreciação da vida. Gregor, depois de sua metamorfose, persiste obstinadamente na mesma mentalidade conformista que tinha antes. Apesar de Gregor acordar numa manhã e se encontrar transformado num inseto gigante, e depois de perceber que ele não é mais humano, os processos de pensamento de Gregor não passam por nenhuma mudança (Kafka, 1997). "Ao invés de reagir com franca ansiedade, Gregor pensa, o tempo todo, sobre seu empr...

Hitler e a direita

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A direita parece não suportar a vergonha de ter enquadrado em suas fileiras alguém como Adolf Hitler. Ela tenta a todo custo encontrar alguma forma de "transferir" essa "responsabilidade" para o campo da esquerda. Você já reparou com que frequência vemos o socialismo associado ao nazismo em capas de revista, por exemplo? Pois é, são coisas desse tipo que a direita vem fazendo para tentar "emplacar" a idéia de que Hitler não era um dos seus. Como um jovem pobre que foi recusado na faculdade de artes por duas vezes conseguiu chegar ao poder e causar todo o estrago que fez ao mundo? Pura habilidade política? Pura retórica? Claro que não. No período entre as duas guerras e com o sucesso da revolução russa em 1917, o socialismo estava se tornando uma ameaça na Alemanha. O partido comunista era o maior e o mais influente. Literalmente, "um espectro rondava a Alemanha". Para tentar conter o avanço comunista, a burguesia alemã injetou dinheiro nas campan...

"Mas o mundo é assim mesmo!"

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Essa é uma das frases mais imbecis que alguém pode ser capaz de dizer. Geralmente ela aparece como interpelação diante da exposição que alguém faz de determinada situação da realidade social. Exemplo: alguém afirma que a classe rica do país tem aumentado os seus lucros de forma cafajeste e exorbitante, enquanto que a maioria da população tem dificuldade de garantir direitos básicos como alimentação, moradia e educação. Então um idiota diz: "Mas o mundo é assim mesmo!". Isso é imbecil, em primeiro lugar, porque se a pessoa tem a intenção de confirmar que a leitura que se está fazendo da realidade é correta, ficar calado ou apenas acenar positivamente com a cabeça daria o mesmo resultado. Isso é imbecil, em segundo lugar, porque é expressão de uma concepção fatalista da História. Se o mundo " é " assim mesmo, então isso significa que somos apenas objeto da História, não os seus agentes. Uma concepção fatalista da História é como aquela das tragédias gregas. Um oráculo...

Homens de cabelo grande

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Tive cabelo grande por aproximadamente 10 anos, e quando mais jovem, sempre ouvia a pergunta: "por que seu cabelo é assim, e não igual o de todo mundo?". Esta questão nos leva, de fato, a pensar numa resposta, e gostaria de compartilhar com os amigos do blog algumas reflexões sobre isso. Mas não pensei na questão sem um método: foi a partir de uma perspectiva psicanalítica que, num primeiro momento, tentei compreender quais razões inconscientes me levavam a gostar de cabelo grande. Procurava uma motivação que não dissesse respeito apenas a mim, mas talvez a todo um grupo de pessoas do qual eu fosse um elemento. Acabei descobrindo, por exemplo, que o cabelo grande é um símbolo inconsciente tanto para os genitais quanto para a própria concepção de falo . O interessante é que as primeiras pistas que encontrei sobre os cabelos representando os genitais eu não obtive diretamente da literatura psicanalítica, mas através da interpretação de um sonho que me foi relatad...

Convém calçar luvas para ler "Veja"

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Este título é uma paráfrase de Nietzsche, que dizia que convém calçar luvas para ler o Novo Testamento. É que após tomar conhecimento de uma "reporcagem" que Veja publicou na época dos 40 anos da morte de Che Guevara, essa frase de Nietzsche surgiu das mais profundas regiões do meu inconsciente. Talvez através da associação dos termos "Veja" e "imundície". Venho afirmando e assim fazendo eco a vários jornalistas sérios deste país que Veja é um panfleto. Deixou de ser uma revista há muito tempo. Mas desta vez, a credibilidade de Veja é atacada por um jornalista de fora. O renomado jornalista norte-americado John Lee Anderson, autor da mais completa biografia de Che Guevara já escrita, tomou conhecimento da "reporcagem" que Veja publicou sobre Che Guevara, e ele não gostou do que leu. As cartas trocadas entre o renomado jornalista americano e o jovem jornalista de Veja fornecem um bom quadro do que Veja se tornou. As cartas traduzidas de Anderson...