A obra "A metamorfose", de Franz Kafka, é um clássico no gênero de ficção simbólica experimental que surgiu no início do século XX. Seguindo estreitamente as teorias da alienação do trabalhador, de Karl Marx, o protagonista da história, Gregor Samsa, é a personificação do sufocamento da alma em meio à revolução industrial. O mais irônico na leitura de "A metamorfose" é que Gregor Samsa passa por uma metamorfose apenas no sentido físico; filosoficamente Gregor sempre foi um inseto e o fato de fisicamente se tornar um não altera em nada a sua apreciação da vida.
Gregor, depois de sua metamorfose, persiste obstinadamente na mesma mentalidade conformista que tinha antes. Apesar de Gregor acordar numa manhã e se encontrar transformado num inseto gigante, e depois de perceber que ele não é mais humano, os processos de pensamento de Gregor não passam por nenhuma mudança (Kafka, 1997). "Ao invés de reagir com franca ansiedade, Gregor pensa, o tempo todo, sobre seu emprego e sua família; ele se torna ansioso sobre a passagem do tempo e preocupado com suas novas sensações corporais e suas estranhas dores" (Bouson, 56). Em outras palavras, Gregor não pode escapar do fato de que mesmo como um humano, ele era desumanizado. Suas preocupações sobre obrigações familiares servem para ressaltar que Gregor é agora um inseto na forma física, mas que psiquicamente ele tinha sido pouco mais que isso até então.
De acordo com Karl Marx, para o trabalhador o seu trabalho "é externo a si, i.e., não é parte essencial de seu ser, de forma que ao invés de se sentir bem em seu trabalho, ele se sente infeliz, ao invés de desenvolver sua energial física e mental, ele abusa de seu corpo e arruína sua mente" (Bloom, 107). Gregor é o símbolo ideal do que Marx denuncia; ele é alienado do produto do seu trabalho porque este não lhe pertence. Além disso, ele não está nem mesmo trabalhando por um salário para si próprio; seu salário é direcionado para quitar os débitos de seu pai. Uma vez que Gregor se transforma fisicamente em um inseto ele apenas segue o que já havia lhe acontecido filosoficamente; seu isolamento e alienação se tornam completos. "A transformação de Gregor Samsa em um inseto representa a auto-alienação em um sentido literal, não é meramente uma metáfora costumeira que se torna um fato ficcional... Nenhuma forma mais drástica poderia ilustrar a alienação da consciência do seu próprio ser do que o despertar assustador de Gregor Samsa" (Bloom, 105).
Finalmente, a alienação de Gregor Samsa em relação à sua humanidade é totalmente física e realizada: "Isso é, Samsa, tendo sido um bem-sucedido vendedor, já foi o pilar de sua família, mas agora, sendo impotente, sua irmã assume na frente de seus pais o papel de liderança e força tranquilizadora que tinha sido dele" (Scott, 37). Assim como um inseto é apenas um pequeno ator no esquema maior da natureza e dele não se espera que sinta coisas como satisfação ou ambição, assim Gregor eventualmente se rende completamente à intenção de um sistema de destruir aqueles componentes essenciais de que se constituem a humanidade.
Por Timothy Sexton, tradução de Glauber Ataide. Texto original em inglês aqui.
REFERÊNCIAS:
Bloom, Harold, ed. Franz Kafka's the Metamorphosis. New York: Chelsea House, 1988.
Bouson, J. Brooks. A Study of the Narcissistic Character and the Drama of the Self A Study of the Narcissistic Character and the Drama of the Self. Amherst : University of Massachusetts Press, 1989.
Scott, Nathan A. Rehearsals of Discomposure: Alienation and Reconciliation in Modern Literature: Franz Kafka, Ignazio Silone, D. H. Lawrence . New York: King's Crown Press, 1952.
Kafka, Franz. "The Metamorphosis." The Norton Anthology of World Literature, Vol. F: The Twentieth Century. 2nd Edition. Ed. Sarah Lawall. New York: W.W. Norton & Company, 2003.
Quando eu li este livro há cinco anos atrás eu não fiz essa comparação com o pensamento esmagador da indústria de co capitalismo sobre o individuo, pois as minhas leituras de Marx vieram depois, mas o que eu senti foi esse conformismo de Gregor Samsa com a sua situação, mais ainda foi a sua completa falta de espanto diante de tal absurdo patético. Agora uma boa leitura Franz Kafka é o pequeno livro: “o artista da fome” que trata de do assunto da alienação do individuo na sociedade com uma força insuperável.
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