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Mostrando postagens de agosto, 2009

Sobre a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais

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Durante esta semana meu amigo Eliel e eu tivemos um proveitoso debate online sobre algumas questões políticas, as quais giraram em torno principalmente dos modos de produção capitalista e socialista. Posteriormente este assunto se estendeu, e chegamos a um tópico que tem sido debatido não apenas entre amigos ou nas mesas de bar, mas também no próprio Legislativo: a redução da jornada de trabalho semanal para 40 horas. Eliel publicou em seu blog uma continuação deste debate que tivemos, e o presente post é uma réplica ao seu texto, que pode ser acessado clicando aqui . Creio que o argumento do Eliel contra a redução da jornada se resume no seguinte ponto: "Menos horas trabalhadas geralmente corresponde a menos produção, e menos produção corresponde a aumento de preço no mercado." A seguinte informação que ele apresentou parece reforçar isso: "Michel Aburachid, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário no Estado de Minas Gerais (Sindivest-MG), disse ao Jornal do ...

Um pouco sobre o conceito de ideologia em Marx e o materialismo histórico

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Em vários outros posts deste blog eu já havia feito referência a dois conceitos fundamentais do pensamento de Marx: o de "ideologia" e o de "materialismo histórico". Tentarei agora, através de algumas citações do primeiro volume da obra A ideologia alemã ("Feuerbach - A contraposição entre as cosmovisões Materialista e Idealista"), de autoria de Marx e Engels, apresentar uma visão geral desses conceitos. Ao inverter a dialética hegeliana de cabeça para baixo, "colocando-a de pé", Marx demonstrou que o homem não pensa para depois entrar ou viver no mundo. Ele primeiro está no mundo, vivo, e só depois disso é que pensa. Assim, "...o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é que todos os homens devem estar em condições de viver para poder 'fazer história'. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter moradia, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro fato histórico é,...

Ideologia e o capitalismo como fim da história

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Apesar de a história nos ensinar que o mundo está em constante transformação, há um sentimento comum, em determinados estratos sociais, de que as coisas ou sempre foram assim ou para sempre permanecerão como estão. Talvez com uma variação aqui ou outra acolá, mas sempre assim. Não é que essas pessoas, no entanto, ignorem o básico da história. As raízes de sua crença no imobilismo das formas sociais são outras.   O indivíduo de hoje se assemelha àquele do período romano. Se olharmos para a História da Filosofia, veremos que na época da Roma Imperial a Filosofia Política praticamente desapareceu, enquanto que os filósofos voltavam suas reflexões principalmente para a Filosofia Moral. Isso é, o que deveria ser mudado era o indivíduo, não o mundo. Havia uma sensação de impotência diante do império da mesma forma que muitas pessoas experimentam hoje. Basta darmos uma olhada nas prateleiras de livros mais vendidos para saber o que mais interesa ao homem médio: livros para mud...

"Je vous salue, Marie", de Jean-Luc Godard

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Vamos imaginar que nos chegasse hoje a notícia de que há uma pequena seita pregando que seu líder nasceu de uma virgem, morreu, ressuscitou e seu corpo realmente não pode ser encontrado. Imaginemos também que ficássemos sabendo disso por acaso, porque a mídia não tem dado a mínima atenção a esse grupo. Iríamos acreditar nessa história? Parece que quando eventos fantásticos ou miraculosos estão historicamente distantes, eles se tornam mais fáceis de se acreditar. Pensamos que talvez o mundo fosse bem diferente, talvez coisas como uma gravidez sem ato sexual ou a ressurreição dos mortos acontecessem mesmo. Fui levado a reflexões como essas após assistir ao filme "Je vous salue, Marie", do diretor francês Jean-Luc Godard, em que a história da concepção e do nascimento virginal de Jesus se passam no mundo contemporâneo. O filme sugere uma proposta de uma reflexão sobre uma espiritualidade cristã hoje. Maria é uma jovem comum, filha de um dono de um posto de gasolin...

Você "acredita" em Freud?

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Muita gente me pergunta, ao ouvir algumas de minhas posições teóricas, se eu "acredito" nelas. Uma das perguntas que ouço com mais frequência é se eu "acredito" em Freud. Vamos parar por um minuto e esclarecer uma coisa: Freud não é um concorrente de Jesus Cristo, Krishna ou outro deus. Não se "acredita" em Freud como se fosse algo semelhante a acreditar em espíritos ou em alguma outra coisa sem evidência. Eu vejo duas razões que possibilitam o surgimento desse tipo de questionamento: a primeira é uma mentalidade estritamente religiosa, acostumada a interpretar o mundo aquém dos limites da religião, da crença, da fé. A segunda é uma consequência do próprio pensamento de Freud, que não é óbvio ou aparente ao homem comum, principalmente por lidar com conteúdos inconscientes, com aquilo que o homem sempre quis esconder de si próprio. Teorias postuladas por Freud, como o Complexo de Édipo, por exemplo, não são observáveis pelo homem comum sem alg...

O que é ontologia?

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A ontologia, de uma maneira geral, pode ser definida como “a doutrina do ser e das suas formas” (ABBAGNANO, 2007, p. 848). Este termo hoje é às vezes usado como sinônimo de Metafísica por alguns autores, mas outros preferem fazer uma distinção, classificando a Ontologia como uma área específica da Metafísica. A razão disso é que eles consideram o termo Ontologia a) mais geral e neutro e b) mais conciliável com uma perspectiva empirista (Ibid., p.848). Segundo Abbagnano, no que se refere a a) , enquanto o termo Metafísica parece pressupor a priori (ou seja, antes ainda de demonstrar) uma dimensão metassensível e metanatural, o termo Ontologia limita-se a assinalar a existência de um problema do ser que pode ser resolvido de maneiras diferentes (ou seja, não só em direção a uma metafísica transcendentalista, mas também em direção a uma metafísica imanentista. Quanto a b) , a Ontologia, entendida como exposição ordenada dos caracteres fundamentais do ser que a experiência revela ...