A legitimidade das pesquisas com células-tronco

O debate sobre a legitimidade das pesquisas com células-tronco toca em muitas das questões que estão presentes também na discussão sobre o aborto, já que para que uma das formas dessas pesquisas sejam realizadas é necessária a interrupção da vida de um embrião.

Já vimos no post "Um ponto de vista sobre o aborto" que um embrião humano é um ser humano em um determinado estágio de desenvolvimento, e não alguma outra coisa não-humana, mesmo que diversas de suas potencialidades ainda não tenham passado dessa potência ao ato. Vimos também que assim como os humanos passam pelas fases da infância, da adolescência, etc, ele também passa por uma fase de desenvolvimento chamada embrionária.

No entanto, se na questão do aborto essa interrupção da vida em muitos casos é desproposital, ancorada apenas no "desejo" da mãe, no caso das pesquisas com células embrionárias há uma promessa de que o resultado dessas pesquisas traga benefícios para a humanidade.

Mas seria a mera possibilidade de benefícios legitimadora de qualquer tipo de experiência científica? Estão os procedimentos científicos livres de qualquer orientação ética? Essa parece ser a tendência. De acordo com Teixeira e Buglione (2008, p. 151-155), "o avanço inexorável da biotecnologia é o avanço do discurso que, pelo simples fato de um poder fazer, se tem, implícito, a legitimidade para fazê-lo [...] A promessa de benefícios à qualidade de vida humana justifica qualquer ação. Esse é o novo imperativo."

E os autores citam Schramm (apud Teixeira e Buglione, 2008, p. 158), que complementa :

...este fato é conhecido também como niilismo tecnocientífico, que consiste numa espécie de imperativo categórico segundo o qual: tudo aquilo que é tecnicamente possível fazer será inevitavelmente feito cedo ou tarde, independentemente do fato de que seja moralmente lícito ou não.

Ainda segundo este autor, a biotecnologia "se caracteriza por utilizar um ‘imperativo categórico próprio’, que é a idéia de que na técnica não há limites, e não deveria haver, portanto, obediência a padrões éticos ou morais (SCHRAMM, 1996, apud Teixeira e Buglione, 2008, p. 150).

O relativismo moral torna a questão extremamente problemática, já que a ausência de valores absolutos, em muitos casos, inviabiliza qualquer discussão sobre ética. Mas assim como na questão do aborto, a seguinte objeção à pesquisa com células embrionárias precisa ser elucidada: se e é lícito interromper a vida humana na fase embrionária, então por qual razão ela não poderia também ser interrompida em outras fases do desenvolvimento humano, como na infância ou na adolescência, por exemplo, se isso implicasse a possibilidade de benefícios para a humanidade? Essa não é uma simples questão à qual possamos fechar os olhos, tapar os ouvidos e desqualificar aos gritos de "reacionária!" a postura crítica.


REFERÊNCIAS:

TEIXEIRA, Eduardo Didonet; BUGLIONE, Samantha. Cenários contemporâneos. Palhoça: UnisulVirtual, 2008.

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