Blaise Pascal (1623-1662) foi um filósofo e matemático francês, conhecido também por suas descobertas sobre o cálculo infinitesimal e o cálculo de probabilidades. Dotado de rara inteligência, Pascal inventou a primeira máquina de calcular logo aos dezenove anos de idade, de modo que pode ser considerado um dos pais da computação moderna. Há inclusive uma linguagem de programação que leva o seu nome.
Forte crítico do racionalismo cartesiano, o também físico e literato afirmava os limites da razão e a necessidade de ir além através da fé e de outras faculdades humanas, e por isso sua célebre frase: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Depois de se converter ao cristianismo, escreveu sua famosa obra Pensamentos, publicada apenas postumamente. Até mesmo Friedrich Nietzsche o cita em O anticristo, lamentando que a religião tenha envenenado tão grande intelecto.
A aposta de Pascal
A aposta de Pascal é um argumento pragmático que busca decidir qual a melhor escolha a fazer quanto à existência de Deus. Ela tem como ponto de partida a constatação de que a razão não é capaz de decidir se Deus existe ou não: “Dieu est, ou il n’est pas” (“Deus é, ou ele não é”).
Considerando então um indivíduo indeciso, Pascal pede que ele faça uma aposta pesando as possibilidades e suas consequências. Não há como se abster deste jogo (ou aposta), pois já estamos dentro dele, já participamos, pois estamos vivendo: “Il faut parier” (“É necessário apostar”).
Podemos enumerar as possibilidades e os resultados da aposta de Pascal da seguinte maneira:
- Se Deus existe e apostamos que ele de fato existe, então ganhamos a vida eterna, ganhamos tudo.
- Se Deus existe e apostamos que não, então perdemos tudo e somos condenados ao inferno.
- Se Deus não existe e apostamos que ele existe, perdemos uma vida finita limitada na Terra, o que não deve ser um grande problema, pois após a morte não teremos consciência para lamentar esta perda finita. Abrimos mão de prazeres terrenos por um curtíssimo período de tempo.
- Se Deus não existe e apostamos que ele não existe, ganhamos uma vida libertina de prazeres temporários na Terra, mas isso também não parece grande coisa, pois nem ao menos poderemos celebrar que ganhamos a aposta, já que a morte é o cessar da consciência.
Tendo em vista, portanto, o que temos a ganhar e a perder, o melhor é apostar que Deus existe e viver uma vida piedosa.
Pascal reconhece que não podemos “escolher” ter ou não ter fé. Sua aposta diz respeito a escolher uma vida de beatitude ou de lascívia. A vida beata pode nos levar a desenvolver fé, mas não garante.
Outra observação importante é que a aposta de Pascal não é um argumento para provar a existência de Deus. Ele quer apenas mostrar que é mais racional apostar em sua existência do que o contrário.
A tabela abaixo nos ajuda a visualizar melhor as opções disponíveis.
Possibilidades da aposta de Pascal
I. Deus existe | II. Deus não existe | |
i. Eu acredito | A. Ganho infinito menos perda finita | B. Perda finita |
ii. Eu não acredito | C. Ganho finito menos perda infinita | D. Ganho finito |
Referências
MORELAND,
J.P.; CRAIG, William Lane. Philosophical foundations for a Christian worldview.
Downers Grove: InterVarsity Press, 2017.
PASCAL,
Blaise. Pensées. Paris: Flammarion, 2015.
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