Raul Seixas e Freud


Em sua obra A interpretação dos sonhos, Freud tece breves comentários sobre as semelhanças entre o processo de criação artística e o processo de formação dos sonhos. Como todos sabem, alguns elementos nos sonhos aparecem representadas por símbolos. Os sonhos não são totalmente simbólicos, mas a intepretação dos símbolos é apenas um dos métodos utilizados para auxiliar na compreensão de um significado mais amplo do processo onírico. Assim, muitas coisas que vemos representadas por símbolos nos sonhos podem aparecer representadas pela mesma imagem também em uma obra de arte, seja ela uma pintura, uma escultura, um poema, etc.

Um destes símbolos que Freud cita na seção de "símbolos típicos" de sua obra é o de um trem, isso é, quando a pessoa sonha com um trem (ou com um determinado tipo de veículo) em que ela não consegue embarcar. Segundo Freud, essa é uma imagem usada pela psique para representar o desejo de escapar da morte. Em nossa linguagem usamos com frequência o termo "partir" para dizer que alguém morreu, e essa é uma das razões dessa expressão ser transformada exatamente nestas imagens em nossos sonhos. Assim, quando uma pessoa sonha, por exemplo, que um trem está partindo mas que ela não consegue nele embarcar, isso é, segundo Freud, um sonho de conforto que diz à pessoa: "Olha, não se preocupe, você não vai morrer. Você perdeu o trem, não vê?"

O trem das sete

Estava ouvindo há poucos dias a música Trem das sete, de Raul Seixas, quando pela primeira vez parei para compreender e analisar sua letra. Ela começa dizendo:

"Ói, ói o trem, 
Vem surgindo de trás das montanhas azuis
Ói o trem".

O que me chamou a atenção foi ela falar sobre trem, e me lembrei imediatamente das observações de Freud sobre o símbolo do trem em A interpretação dos sonhos. Levantei então a hipótese de que a música fala sobre a morte e, prosseguindo na análise, tudo encaixava e fazia sentido nesta chave de leitura.

Isso parece especialmente claro quando a música diz, por exemplo:

"Quem vai chorar, quem vai sorrir? 
Quem vai ficar, quem vai partir?"

E também quando em seguida fala sobre o céu e sobre Deus:

"Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais"
[...]
Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons"

Abaixo está a letra, na íntegra.

Trem das Sete
(Raul Seixas)
Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem
Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon

Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem
Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem

Quem vai chorar, quem vai sorrir ?
Quem vai ficar, quem vai partir ?
Pois o trem está chegando, tá chegando na estação
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão

Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar

Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons

Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral

Amém.

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  1. Anônimo11:10 PM

    ouvi falar que paulo coelho era amigo de infancia de raul seixas, e que era ele quem fazia as letras do raul...

    nao pesquisei ainda pra saber se e verdade.

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