Baseado livremente no romance O duplo, de Dostoievski, o filme Partner, do diretor italiano Bernardo Bertolucci, apresenta diversos temas relacionados à geração de 1968, podendo ser considerado de fato um filme político, apesar de não histórico. Tomei notícia de sua existência somente ao vê-lo na estante da locadora e, como tinha lido recentemente O duplo, não hesitei em levá-lo para conferir.
Tendo sido filmado exatamente em 1968, durante as gravações de Partner chegou-se a notícia do Maio Francês, o que fez então com que vários de seus slogans fossem incorporados ao filme ("É proibido proibir", "É vedado vedar", etc) que já seguia, segundo o próprio diretor, uma produção improvisada.
Em relação à obra de Dostoievski o filme apresenta diversas diferenças. O protagonista do livro, Golyadkin, é um pequeno funcionário público, enquanto que o protagonista Jacob, no filme, é um professor de teatro. Algumas cenas do livro foram mantidas, apesar de que, francamente, ainda não compreendi o que elas tem a ver com o restante da obra. Assisti ao filme apenas uma vez, e como ele é "de difícil compreensão", segundo o próprio Bertolucci, não entendi muitas coisas ainda. E outra diferença essencial é sobre a existência do alter ego do protagonista. No livro ele é real, mas no filme é uma obra da imaginação do professor.
O professor de teatro Jacob é, assim como Golyadkin, um sujeito cindido, dividido. O seu sósia faz exatamente tudo aquilo que ele gostaria de fazer mas que não leva a cabo devido à sua timidez ou à sua covardia. Todos os seus impulsos agressivos, destrutivos e sexuais encontram realização neste outro, o qual o leva também a ter um maior engajamento político através do teatro.
Segundo Bertolucci, seu filme mostra que os intelectuais europeus não mais podiam fazer a revolução, e Jacob é exatamente isso, um intelectual europeu. Assim, é o duplo de Jacob que trabalha com seus alunos na criação de um espetáculo (revolução?) de rua, pois o lugar do teatro é ali, junto ao povo e se misturando a ele.
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