"Gente pobre", o primeiro livro de Dostoiévski


Sou suspeito para falar de Dostoiévski. Este é o autor que mais leio, o que mais prende minha atenção e com o qual mais me identifico. Antes de ler Gente Pobre, contudo, estava um pouco apreensivo: o que esperar do primeiro livro de Dostoiévski, escrito quando o autor contava apenas 24 anos? Seria esta obra apenas uma curiosidade, uma peça histórica, digna de ser relançada apenas devido ao nome que o autor viria a construir posteriormente?

Não, nada disso. O romance Gente pobre já é o Dostoiévski que conhecemos. Vários dos traços de estilo e dos caracteres que encontramos em obras posteriores já estão presentes ali, não deixando dúvidas de que o que temos nesta obra já é aquele Dostoiévski que no futuro consolidaria seu nome no hall dos grandes escritores de todos os tempos.

Gente Pobre pode nos levar das lágrimas de indignação às gargalhadas. Construída como uma crítica social, ela revela, através de uma troca de cartas entre seus protagonistas - uma jovem órfã, Várvara Aleksiéyevna, e um funcionário público de idade mais avançada, Makár Diévuchkin -, seu  estado de pobreza e suas dificuldades, como se alimentam, se vestem e moram mal.

Ao mesmo tempo, contudo, alguns episódios do cotidiano destes dois, causados principalmente por sua pobreza, já prenunciam aquilo que encontraríamos em obras posteriores, como em Notas do subsolo, por exemplo - aquelas situações constrangedoras causadas por um vestuário velho e rasgado, inadequado para determinadas ocasiões, e que deixam os protagonistas em posições muito desagradáveis. (Particularmente eu fico rindo só de lembrar desses trechos. Inclusive me surpreendi rindo novamente no momento em que escrevia isso.) Mas se você ainda não leu essas situações em Dostoiévski, não pense que já sabe como é. Seu estilo é único, inigualável.

Gente Pobre é um livro altamente recomendável, e é por isso que compartilho esta brevíssima resenha com vocês.

0/Deixe seu comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem