Freud e Marx? Psicanálise e marxismo ?



Há alguns dias uma psicóloga e psicanalista me enviou um interessante e-mail fazendo algumas perguntas sobre a aproximação que ela percebeu neste blog entre Marx e Freud.

Alguns pensadores argumentam que não é possível uma convergência entre as duas correntes, não obstante se aproximarem em alguns aspectos metodológicos. Até o próprio Freud chega a "criticar" o comunismo em O mal-estar na civilização.

Há, no entanto, uma outra linha de pensamento que constrói essa ponte entre os dois, e que talvez seja menos conhecida.

Reproduzo abaixo o e-mail que lhe enviei.


Olá, *******

Há uma corrente chamada "freudo-marxismo" que faz uma síntese de Freud e Marx. Este artigo é bem interessante para uma introdução no assunto:


Freud nunca chegou a conhecer bem o pensamento de Marx. Quem primeiro trouxe a discussão à Sociedade Psicanalítica de Viena foi Adler, mas ele não tinha uma boa compreensão do que estava expondo a Freud que, por sua vez, não se "empolgou" com o assunto.

Talvez o maior psicanalista que tenha trabalhado nessa síntese tenha sido o Reich. Ele era comunista, e muitos anos depois também apresentou a Freud algumas coisas de Marx. Ele também introduziu, no entanto, muitas de suas próprias ideias como sendo de Marx, e são elas que Freud critica em O mal-estar na civilização. Ou seja, neste livro, Freud critica muito mais Reich do que Marx.

Dois anos antes de morrer, Freud reconheceu que seu conhecimento do marxismo era mínimo (assim como ele já tinha feito em O mal-estar na civilização) e disse o seguinte:

"Sei que os meus conhecimentos sobre o marxismo não revelam nenhuma familiaridade maior, não mostram uma compreensão adequada dos escritos de Marx e Engels. Fiquei sabendo mais tarde, com certa satisfação, que nem um nem o outro negaram a influência dos fatores do ego e do superego. Isso desfaz o principal conflito que eu pensava existir entre o marxismo e a psicanálise."

Esta última citação eu extraí do livro O marxismo na batalha das ideias, de Leandro Konder, p. 111.


Obrigado pelo contato, e abraços,
Glauber