Jean-Paul Sartre e as emoções

Em um de seus primeiros escritos publicados, Esboço para uma teoria das emoções, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre efetua uma crítica a algumas teorias das emoções de correntes mecanicistas da psicologia de sua época (e também do "determinismo" psicanalítico), tentando então dar início a um projeto fenomenológico sobre as emoções.

Uma única expressão de Sartre, talvez, resuma o que são as emoções: "transformações mágicas do mundo". Para ele, as emoções são maneiras, são estratégias de lidarmos com as dificuldades do mundo. Não são apenas "sensações" ou "sentimentos". As emoções não podem ser reduzidas a meras reações químicas, liberações de hormônios por determinada parte do cérebro ou atividades neurológicas.

Sartre vê as emoções de forma teleológica: elas possuem uma "finalidade", um propósito a alcançar. Como exemplo ele cita o caso de uma mulher que sempre desmaiava diante de uma determinada situação. Para ele, esses desmaios refletem uma escolha de evitar uma situação intolerável.

Um outro exemplo que ilustra as emoções como escolhas e dotadas de finalidade é a famosa fábula da raposa e das uvas, de Esopo. Nesta história a percepção da raposa transforma o mundo quando ela não consegue alcançar as uvas que quer. A raposa se recusa a se ver como uma fracassada, e escapa assim da humilhação da derrota. Esse é um exemplo claro de uma "transformação mágica do mundo", cuja finalidade ou "intencionalidade" é manifesta.

Às vezes as pessoas se referem às suas próprias emoções como "desculpas" para justificar determinados comportamentos. Alguém pode dizer: "Fiz aquilo porque estava nervoso(a)". Nesses casos, as pessoas se referem às suas emoções como se fossem algo "externo" a si próprias, como uma força que as tivesse tomado e compelido a se comportar de determinada maneira. Mas nossos comportamentos não podem ser justificados por nossas emoções. Eles podem ser, na maioria das vezes, talvez explicados por eles. Nossas emoções não são algo externo a nós. Elas são nossas, nos pertencem, e somos, portanto, responsáveis por elas.

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  1. Muito boa reflexão Glauber...

    Peguei como lição para mim o seguinte trecho:

    "...nossos comportamentos não podem ser justificados por nossas emoções. Eles podem ser, na maioria das vezes, talvez explicados por eles. Nossas emoções não são algo externo a nós. Elas são nossas, nos pertencem, e somos, portanto, responsáveis por elas."

    Grande abraço e sucesso!

    Kylter

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