Tentar definir modernidade e pós-modernidade quase sempre resulta em "conclusões inconclusas". Nada de diferente se poderia esperar de tal empresa, pois não é possível dizer o que é daquilo que está vindo a ser. Estamos em meio a um processo e fazemos parte dele. Não temos a posição privilegiada de um observador externo e alheio. O filósofo alemão Georg Wilhelm Hegel afirmava que a coruja de Minerva só levanta vôo ao entardecer, o que significa que só podemos apreender um tempo ao final de sua passagem, em seu ocaso.
Isso não nos impede, contudo, de tentar esboçar, mesmo que de forma trôpega, algumas características, semelhanças e diferenças entre esses dois períodos históricos e também de tentar nos situar em um ou no outro,
Isso não nos impede, contudo, de tentar esboçar, mesmo que de forma trôpega, algumas características, semelhanças e diferenças entre esses dois períodos históricos e também de tentar nos situar em um ou no outro,
A modernidade pode ser caracterizada como a época de valorização e crenças nas noções de verdade, razão e objetividade, fé no progresso científico e na emancipação universal. Ela é a época das chamadas "grandes meta-narrativas", das quais o marxismo é uma das principais. Para termos uma ideia geral do que define a modernidade, podemos esboçar brevemente as linhas gerais do marxismo e o contexto do qual ele surgiu.
Karl Marx, assim como seus antecessores idealistas alemães, tinha um forte senso científico. Seu pensamento se baseia no concreto, na vida real dos homens e na economia. Sua principal obra se chama O capital, e nela Marx realiza um minucioso exame da estrutura da sociedade capitalita. Antes dele Hegel também já trazia a realidade histórica para a reflexão filosófica. Seu livro mais importante, a Fenomenologia do Espírito, teria como primeiro título Ciência da experiência da consciência, e outra de suas obras mais relevantes, a Ciência da lógica, também evidencia já pelo próprio título o intento de transformar a filosofia em uma ciência. O filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte, do mesmo período, também considerava que estava fazendo ciência, como revela o título de uma de suas principais obras, O fundamento da doutrina da ciência.
Quando Friedrich Engels, o fiel escudeiro de Marx, dá o nome de "socialismo científico" ao sistema de pensamento que ambos construíram juntos, ele apenas expressava algo comum do caldeirão cultural de sua época, de seu Zeitgeist. O marxismo fornecia uma leitura abrangente de toda a história da humanidade. apreendia a totalidade da realidade social e buscava uma transformação revolucionária a nível planetário. Neste sentido, o marxismo é um produto característico da modernidade.
A pós-modernidade, por sua vez, seria o questionamento de tudo isso. Também chamada pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman de "modernidade líquida", a pós-modernidade caracteriza-se por uma tentativa de desconstrução das bases e dos legados do Iluminismo, principalmente sua confiança na razão e na ciência. Ela é um movimento cultural, político e filosófico abrangente, tendo entre os seus principais alvos as grandes meta-narrativas surgidas neste período, tais como o marxismo. Alguns dos principais pensadores pós-modernos são Michel Foucault, Jacques Derrida, Jean-François Lyotard e Richard Rorty.
Para Foucault, por exemplo, não fazia sentido falar em nome da razão, da verdade ou do conhecimento. Na década de 1970, a atmosfera na França era de um crescente anticomunismo, e o próprio Foucault rompe com o marxismo em sua obra Em defesa da sociedade, de 1976. Para o filósofo francês a filosofia não deveria ser normativa, mas analítica. Era necessário abandonar a ideia de “revolução” em favor das lutas “marginais”. As lutas descentralizadas visam a uma realidade histórica: a uma forma de poder que não é jurídica, econômica, política ou étnica – é o poder de origem religiosa.
Karl Marx, assim como seus antecessores idealistas alemães, tinha um forte senso científico. Seu pensamento se baseia no concreto, na vida real dos homens e na economia. Sua principal obra se chama O capital, e nela Marx realiza um minucioso exame da estrutura da sociedade capitalita. Antes dele Hegel também já trazia a realidade histórica para a reflexão filosófica. Seu livro mais importante, a Fenomenologia do Espírito, teria como primeiro título Ciência da experiência da consciência, e outra de suas obras mais relevantes, a Ciência da lógica, também evidencia já pelo próprio título o intento de transformar a filosofia em uma ciência. O filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte, do mesmo período, também considerava que estava fazendo ciência, como revela o título de uma de suas principais obras, O fundamento da doutrina da ciência.
Quando Friedrich Engels, o fiel escudeiro de Marx, dá o nome de "socialismo científico" ao sistema de pensamento que ambos construíram juntos, ele apenas expressava algo comum do caldeirão cultural de sua época, de seu Zeitgeist. O marxismo fornecia uma leitura abrangente de toda a história da humanidade. apreendia a totalidade da realidade social e buscava uma transformação revolucionária a nível planetário. Neste sentido, o marxismo é um produto característico da modernidade.
A pós-modernidade, por sua vez, seria o questionamento de tudo isso. Também chamada pelo filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman de "modernidade líquida", a pós-modernidade caracteriza-se por uma tentativa de desconstrução das bases e dos legados do Iluminismo, principalmente sua confiança na razão e na ciência. Ela é um movimento cultural, político e filosófico abrangente, tendo entre os seus principais alvos as grandes meta-narrativas surgidas neste período, tais como o marxismo. Alguns dos principais pensadores pós-modernos são Michel Foucault, Jacques Derrida, Jean-François Lyotard e Richard Rorty.
Para Foucault, por exemplo, não fazia sentido falar em nome da razão, da verdade ou do conhecimento. Na década de 1970, a atmosfera na França era de um crescente anticomunismo, e o próprio Foucault rompe com o marxismo em sua obra Em defesa da sociedade, de 1976. Para o filósofo francês a filosofia não deveria ser normativa, mas analítica. Era necessário abandonar a ideia de “revolução” em favor das lutas “marginais”. As lutas descentralizadas visam a uma realidade histórica: a uma forma de poder que não é jurídica, econômica, política ou étnica – é o poder de origem religiosa.
Os movimentos sociais pós-modernos, por isso, refugiam-se hoje nas pequenas lutas parciais, identitárias, abandonando toda ideia de revolução e colocando em seu lugar pequenas transformações sociais. Não por acaso o tema da "cidade" é tão comum entre os movimentos pós-modernos. Enquanto o marxismo busca a transformação do mundo, o pós-modernismo quer apenas uma cidade melhor: parques abertos 24 horas por dia, ciclovias, despoluição dos rios para que seja possível neles nadar, etc. A luta do trabalhador contra o capital desaparece do horizonte desses movimentos.
As primeiras décadas do século XXI, contudo, são uma "colcha de retalhos". São um grande mosaico de épocas, períodos e situações históricas que existem lado a lado. Se a rejeição pós-moderna da razão e da ciência nos levou aos movimentos antivacina e à defesa da terra plana, outras regiões do globo, dominadas pelo fundamentalismo religioso, parecem não ter saído ainda da idade média. Os períodos históricos nunca são homogêneos, de modo que características das organizações sociais precedentes sempre se fazem sentir, de alguma maneira, nos estágios posteriores. A realidade é sempre um devir, um vir a ser em constante transformação, e por isso ainda não podemos conclusivamente dizer se de fato ultrapassamos a modernidade - se estamos em uma pós-modernidade -, ou se estamos apenas em um de seus momentos, talvez em modernidade líquida.
Olá, Glauber.
ResponderExcluirCheguei no seu blog pelo seu comentário no meu. Você escreve bem e os assuntos são interessantes (embora nem tudo me atraia, o que é mais que normal, não? rs). Creio que lhe farei mais visitas!
Quanto ao assunto da postagem, é verdade que há elementos de modernidade e pós-modernidade (e também elementos medievais, como você nota) e que isso reflete a própria pós-modernidade. Por isso mesmo alguns preferem o termo ultra-modernidade e eu tendo a concordar com eles. Pois a pós-modernidade e o questionamento da razão e do progresso, e de todos os pressupostos modernos, são as consequencias do aprofundamento do próprio modernismo. Ou seja, estamos vivendo o modernismo levado às suas últimas consequencias!
E também é verdade, a cultura brasileira ainda é fortemente influenciada pelo positivismo desde Comte.
Abraço,
Roberto
Sou defensor de um ponto de vista um pouco divergente ao seu. Acredito que sempre estamos em transformações, mudanças e a consequência disso é a não existência da Pós-Modernização e sim de apenas uma Modernização, que é constante, que acompanha a sociedade, que nunca fica estagnada. Na verdade não existe uma sociedade Pós-Moderna ou até uma Ultra-Moderna. O que existem são apenas sociedades modernas, mas, cada uma em seu determinado tempo. Todas as coisas que consideramos hoje em dia modernas, sempre serão modernas, mas, pro seu determinado tempo. A idade média, por exemplo, foi uma sociedade moderna, mas para aquele determinado tempo.
ResponderExcluirabraço,
Igor Lins.
Igor, me parece que a pós-modernidade à qual ele se refere não é a mesma que teu comentário evidencia. Trata-se de uma pós-modernidade que é muito mais uma "leitura" da Modernidade do que um "depois" dela. O prefixo pós, neste caso, tem um uso próximo ao do "pós-colonialismo".
ResponderExcluirGostei do artigo, bem sucinto, direto, mesmo [como o próprio autor antecipa] com algumas generalizações. Vou usar numa aula sobre literatura modernista pro ensino médio, vão gostar.
Só uma coisa achei imperdoável: o PCdoB não cabe naquela comparação... deixou de ser uma "esperança comunista" faz é tempo! hehehe
Abraço.
Olá, Sandro,
ResponderExcluirQuando ao PCdoB, eu concordo com você. Este texto é de 2009, precisa ser atualizado. :)
Abraços
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