Agostinho foi uma das grandes mentes do Ocidente que tentou resolver o chamado “problema filosófico do mal”. Sua abordagem da questão não foi apenas prática, mas brilhante. Existem dois diferentes aspectos neste problema. Uma maneira de abordar a questão da origem do mal é levantando um silogismo (uma série de afirmações que formam um argumento coerente: 1) Deus criou todas as coisas; 2) o mal é uma coisa; 3) portanto, Deus criou o mal. Se as duas primeiras premissas são verdadeiras, então a conclusão é inescapável.
Essa formulação, se sustentada, é devastadora para o cristianismo. Deus não seria bom se ele tivesse criado o mal. Agostinho percebeu que a solução estava relacionada à questão: o que é o mal? O argumento acima depende da idéia de que o mal é uma coisa (veja a segunda premissa). Mas e se o mal não for uma "coisa" nesse sentido? Então o mal não precisaria ser criado. Então, sua busca pela fonte do mal irá por outra direção.
Agostinho abordou a questão por um ângulo diferente. Ele perguntou: Há alguma evidência convincente de que um Deus bom existe? Se alguma evidência nos leva a concluir que Deus existe e é bom, então ele seria incapaz de criar o mal. Então, sua fonte deve ser alguma outra coisa.
Se essa abordagem de Agostinho é verdadeira, ela levanta um par de silogismos que leva a diferentes conclusões. Primeira: 1) Todas as coisas que Deus criou são boas; 2) o mal não é bom; 3) portanto,o mal não foi criado por Deus. Segunda:1) Deus criou todas as coisas; 2) Deus não criou o mal; 3) portanto,o mal não é uma coisa.
Essa é a estratégia de Agostinho. Se o mal não é uma coisa, então o argumento contra o cristianismo desenvolvido pelo primeiro silogismo que vimos não tem fundamento porque uma de suas premissas é falsa. A questão fundamental é: o que é o mal?
Central para a idéia de bem de Agostinho (e, consequentemente, de mal) era a noção do ser. Para Agostinho, tudo o que tinha o ser era bom. Deus como a fonte do ser é perfeitamente bom, juntamente com tudo o que ele trouxe à existência. A bondade é uma propriedade que varia em diferentes níveis.
Com esse fundamento, Agostinho estava agora preparado para responder à questão principal: Onde está o mal? Qual a sua fonte? Quando e por onde ele entrou? A resposta de Agostinho foi: "O mal não possui uma natureza negativa, mas a perda do bem recebeu o nome de 'mal'".
A diminuição da propriedade do bem é o que é chamado mal. O bem tem um ser substancial, o mal não. Desde que todas as coisas foram feitas boas, o mal necessariamente deve ser uma privação do bem. "Tudo o que é corrompido é privado do bem".
Então, dizer que alguma coisa é má é apenas uma maneira de dizer que ela é privada do bem, ou tem uma quantidade menor de bem que deveria ter. Mas a questão permanece: "Quando e por onde ele entrou?".
Agostinho observou que o mal não poderia ser escolhido, pois ele não era uma coisa a ser escolhida. Alguém pode apenas afastar-se do bem, isso é, de um grau maior para um grau menor (na hierarquia de Agostinho) desde que todas as coisas são boas. Pois, segundo ele, quando a vontade abandona o que está acima de si e se vira para o que está abaixo, ela se torna má - não porque é má a coisa para a qual ela se vira, mas porque o virar em si é mau. O mal, então, é o próprio ato de escolher um bem menor. Para Agostinho a fonte do mal está no livre arbítrio das pessoas.
A questão do mal em Agostinho
byGlauber Ataide
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Postado por Glauber Ataide
Mestre e bacharel em Filosofia pela UFMG e pós-graduado em Teoria Psicanalítica. Bacharel também em Sistemas de Informação. Acho que o papel da filosofia não é apenas interpretar o mundo, mas também transformá-lo. Me interesso por psicanálise, música erudita, literatura clássica, idiomas e outras coisas que você pode encontrar em meus textos. Faixa preta e praticante de Taekwondo desde a infância. Moro em Nuremberg, na Alemanha.
uhm, legal isso aí... nunca tinha pensado por esse lado.. Deus deve uma ao Agostinho, escapou de ter criado o mal. hehe
ResponderExcluirIsso que acontece quando se é guiado pela graça de DEUS.
ExcluirIsso que acontece quando se é guiado pela graça de DEUS.
ExcluirKkk Deus não deve a Agostinho porque isso está por toda parte na Bíblia, as pessoas que não lê mesmo, e naquela época apenas o clero e principados que tinham acesso a bíblia. Agostinho foi iluminado porque muitos mistérios e palavras de conhecimento vieram dele, técnicas de compreensão que hoje nos ajudam a entender melhor a Bíblia, tb né os cara era aristotélico na veia kkkk.
ExcluirEste argumento de Agostinho é graça de Deus. Uma criatura é Agostinho assim como cada ser humano, porénm se destacou entre muitos pela sua inteligêcia e pela garça.
ResponderExcluirÓtima explicação.
ResponderExcluirNao valeu! Agora eu entendi. Digo: Minha ideia ficou clara. Muito Obrigado, aos Mano ou as mina. Valeu?
ResponderExcluirEntão!!! Qto mais distante de Deus, mais ruins nos tornamos.
ResponderExcluirAgostinho nao conhecia os virus , kkkkkkkk
ResponderExcluirMas ainda se pode englobar na abordagem do mal no ponto de vista metafisico em Agostinho, do qual ele fala que o mal não existe, oque existe são as diferentes proximidades com Deus, sendo o mal visto de formas diferentes por cada um de nos, algo que seria interpretado de acordo com os nossos próprios interesses
ExcluirO problema não são os vírus e sim a ausência de capacidade de combate-los
ExcluirEu teria outra pergunta a fazer se fosse Agostinho: Porque Deus permite o mal? Ora, para que o ser humano aprende o que não deve fazer e assim evoluir moralmente.
ResponderExcluirAlguém sabe a resposta dada pelos maniqueístas ao problema do mal????
ResponderExcluirSanto Agostinho Afirma que o mal é uma quatidade menor De Bem,e Deus criou o Bem,não importa a quantidade,Logo Deus criou o mal(quantidade baixa de Bem) '-'
ResponderExcluirAfirma que o mal não é uma coisa, então não foi criada, ele surgiu sozinho pelo livre árbitro das pessoas .
ExcluirIsaias 45:7 está corretissímo. O que Agostinho afirma que o mal não existe quanto essência, ou seja, substância, Uma Font, origem.Ele afirma que se procurarmos Uma fonte só encontraremos a essência, Bem, que é Deus.Daí o livre arbítrio: se aproximar de Deus, próximo do Bem;afastar-se de Deus, diminuir o grau de bondage. Lógico que isso só é válido para aqueles que acreditam em Deus.
ExcluirÉ como fica Isaías 45, versículo 7:Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
ResponderExcluirIsaías 45:7
O mal já existia antes dá criação. Tanto que foi colocado no Éden a árvore do conhecimento do bem e do mal.a
ResponderExcluirLegal, gostei.... Então conhecemos o que não é mal mais do que o que é mal!!!! Bem tem graus?
ResponderExcluirMuito legal mesmo São Agostinho era enteligente de mais
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