Ditadura em Cuba?

O PIG (Partido da Imprensa Golpista) nos bombardeia tanto com a palavra "democracia" que ela tem se tornado uma palavra gasta, sem sentido. Sabe quando você fica repetindo uma mesma palavra até que você não consegue mais raciocinar sobre o seu significado? Pois é, estamos mais ou menos assim.
Em nome da "democracia" o império do norte (EUA) invade alguns países, implanta ditaduras militares em uns e derruba governos populares em outros. A "democracia" se tornou praticamente um axioma, tem quase o status de uma lei lógica ou matemática. Não se discute se o melhor sistema de governo é uma "democracia".
Mas há pelo menos dois graves problemas com tudo isso: o primeiro é que não existe uma única forma de "democracia", e o segundo é que a nossa chamada "democracia" não é nada mais que a democracia burguesa.
Em Cuba, país acusado de viver sob uma "ditadura" do "terrível ditador" Fidel Castro, há eleições regularmente para definir os representantes da população. E o que é mais interessante: apesar do voto não ser obrigatório, mais de 95% da população sempre comparece às urnas nas eleições periódicas desde 1976. Este percentual é muito diferente do que acontece até mesmo nos EUA, no qual a média está entre 50% e 60%.
Neste momento alguém pode perguntar: mas como há eleições se existe apenas um partido? Ele disputa a eleição contra si próprio? Não, isso seria ridículo. O que acontece, na verdade, é que o Partido Comunista de Cuba nem mesmo participa das eleições.
Os candidatos se inscrevem, primeiramente, em reuniões de seus bairros para este fim, de forma bem simples e rústica. Às vezes não têm nem som para cantar o hino nacional. Os pré-candidatos apresentam então as suas propostas, e a população local, neste momento levantando as mãos, escolhe o candidato que irá concorrer às eleições para vereador.
Ou seja, estes candidatos não são definidos por uma "elite", por ordens "de cima". É a própria população que elege os seus candidatos que posteriormente concorrerão com outros candidatos, também eleitos pelas populações de outras localidades, para ocupar determinado posto.
O próprio Fidel Castro se candidatava como deputado. Ele era eleito, primeiramente, como deputado de um distrito. E só então é que ele ficava encarregado de constituir o Governo e se tornava Chefe-de-Estado, da mesmíssima forma que ocorreu no caso de Tony Blair quando tomou posse da Inglaterra como primeiro ministro.
É bem provável que se este sistema fosse adotado no Brasil, por exemplo, muitos dos nossos governantes nunca chegariam ao poder, porque para isso, eles deveriam ser eleitos por seus vizinhos e pelas pessoas do seu próprio bairro.
Um outro fato interessante em Cuba é que durante a votação as urnas são vigiadas por crianças. Isso é para demonstrar a limpeza do processo eleitoral. Antes da revolução cubana, quem fazia isso era o exército. Não precisamos falar sobre as correntes fraudes que isso suscitava. E a contagem dos votos é pública, diante de quem quiser ver, com o resultado parcial sendo divulgado na mesma hora, diretamente aos ali presentes.
A democracia burguesa diz que não pode haver verdadeira "democracia" em um sistema de partido único, como é o caso de Cuba. Mas a questão é que uma pluraridade de partidos de maneira nenhuma garante uma democracia. O que se verifica na prática é que existem muitos partidos mas apenas uma classe social exercendo todos os poderes.
Tampouco a divisão dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) garante a "democracia". Diz-se que eles estão dividos e independentes, mas estão todos, no entanto, no controle de pessoas de uma única e mesma classe.
Além disso, quando dizem que em Cuba não há "democracia", fazem questão de omitir que lá existem mais de duas mil organizações socias e organizações não-governamentais de caráter científico, religioso, de proteção ao meio ambiente, etc. E algumas delas com milhões de membros.
O PIG parece ter aprendido bem com Goebbels, ministro de propaganda de Hitler, que dizia que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade. Querendo difamar de toda forma a revolução cubana e tentando desqualificar aos olhos da grande população o socialismo como a única alternativa ao capitalismo, espalha a todo canto, ad nauseam, a mentira deslavada de que não há democracia em Cuba. Mas a única democracia que lá não existe é a democracia burguesa. Os cubanos adotam uma forma superior de democracia em que a população tem uma participação muito mais efetiva na direção política de seu país do que é possível acontecer na democracia burguesa.
Notas
A maioria das informações deste post se encontram no excelente documentário argentino "Fatos, não palavras: os direitos humanos em Cuba", de Carolina Silvestre. Neste documentário podemos conhecer muito mais de Cuba, como o seu sistema prisional que transforma infratores em trabalhadores, fazendo com que os presos estudem e saiam da cadeia formados. Este documentário pode ser baixado via torrent ou visualizado no Youtube. A primeira parte está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=JdQU0mXrUXo.