Relacionamento (namoro) entre professora e aluno

Há alguns dias, enquanto dirigia da faculdade para casa, tentava compreender uma cena que havia presenciado na sala de aula pouco antes. O que aconteceu e o que pensei durante o trajeto é como se segue.

Minutos antes do intervalo da aula, estava eu sentado na última cadeira da fila lateral esquerda da sala, lendo Marx, quando minha atenção foi desviada para a conversação que travavam alguns alunos com a professora. Esta dizia que já estava há algum tempo sozinha, e que não queria se relacionar por agora. Um aluno, em tom chistoso, lhe disse que caso ela quisesse, poderia ligar-lhe num final de semana para vê-lo.

Todos os alunos riram, o que é característico deste tipo de situação. Freud demonstrou em sua obra "Os chistes e sua relação com o inconsciente" que os chistes são uma forma de expressar desejos inconscientes. Através de "brincadeiras" dizemos aquilo que não poderíamos expressar de forma direta, e essa é uma das causas do prazer que certas situações nos trazem, provocando gargalhadas.

Mas a professora lhe respondeu que se relacionar com aluno "não era possível". Com ex-aluno até poderia ser ("quem sabe no semestre que vem"), mas com aluno, não. Ela argumentou que isso não era "ético", e foi claro perceber que havia alguma resistência que lhe vedava esse tipo de relacionamento.

Quando a professora disse que se relacionar com alunos não era "ético", essa palavrinha logo me chamou a atenção, pois, como sabemos, a Ética é uma área da Filosofia. Mas ela simplesmente não conseguiu explicar o que havia de "antiético" nisso. Isso me sugeriu que a explicação para esse quadro não seria encontrada através da Filosofia, no eu consciente, mas pela Psicanálise, no inconsciente.

Uma possível interpretação deste caso irá passar pela questão da barreira do incesto. Uma professora, em relação a seus alunos, torna-se uma "mãe" para eles. E isso é especialmente claro no presente caso, haja vista a constante presença de termos e expressões afetivas e maternas que encontramos no discurso dessa professora durante as aulas.

Sabemos que em nossa vida adulta reproduzimos os comportamentos que tínhamos com nossos pais. A forma com que lidamos com as figuras de autoridade ou com nossos cônjuges é moldada pela nossa relação infatil com eles.

Mas também reproduzimos em grande parte a forma como nossos pais nos tratava em nossas relações com os outros. Quando observamos uma menina brincando com bonecas, para citar um exemplo, podemos identificar se há algum problema dela com os pais pela forma com que ela trata a boneca, pois ela a trata em partes da mesma forma que ela sente que seus pais lhe tratam.

Assim, poderíamos reconstruir a resposta inconsciente dessa professora ao aluno da seguinte forma: "Eu não posso me relacionar com você pois, enquanto sua professora, eu sou uma mãe para você. Mas assim que você deixar de ser meu filho, no semestre que vem, essa barreira não mais existirá."

Em muitos casos essa barreira é ultrapassada, mas não sem ponderação ou superação de alguma dificuldade, o que reforça a tese de que existe um tabu inconsciente na relação entre professora e aluno, e esse tabu é, de certa maneira, um deslocamento da barreira do incesto para esse tipo de relacionamento.