Eu já sei "a verdade", pra que perder tempo com "a mentira"?

Foi um pensamento como este que estagnou o pensamento filosófico e científico por quase mil anos na história da humanidade. E é assim que muita gente ainda pensa.

A Idade Média, subjugada à tutoria da Igreja Católica, foi um período em que o pensamento filosófico foi escravizado. Sim, a Filosofia se tornou literalmente "serva da Teologia", e tinha como única função esclarecer a fé. Apesar de empreender um aprofundamento nos estudos de pensadores como Aristóteles, este período não trouxe avanços significativos.

Isso se deu porque "a verdade" já havia sido encontrada. Sim, ela estava logo ali, revelada na Bíblia. Ora, se o homem então já estava de posse da verdade, que lhe foi revelada diretamente do céu, por que perder tempo filosofando?

Em um diálogo com meu amigo Eliel, cristão, do blog "Desconstruindo", ele defendeu posição semelhante, quando falávamos sobre alguns "apologistas" que dizem estar "refutando" Marx e Freud sem nunca terem lido uma única página desses pensadores:

"Se alguém chegar a você e dizer que a terra é plana, você não vai se dar ao trabalho de ler seus argumentos. Pra você o fato de cientistas e filósofos já terem refutado esta visão antiga de mundo é suficiente."

Mas estes argumentos cometem a boa e velha falácia ad verecundiam, isso é, o "apelo à autoridade." Ou seja, acredita-se em uma determinada posição não por causa de sua correspondência à realidade ou pela força de suas premissas que levam a uma conclusão lógica inevitável, mas por causa de uma autoridade qualquer que diz que deve ser de tal e tal modo.

Foi por argumentos assim que por tanto tempo a humanidade acreditou que era o Sol que girava em torno da Terra, e não o contrário. As "autoridades" diziam isso, apesar de pensadores da corrente "não-oficial" já terem descoberto o contrário.

Acredita-se às vezes que determinado pensador foi "refutado" simplesmente porque existem críticas à sua obra. Mas como saber se as críticas são procedentes se eu não conheço o pensamento criticado? Como saber se o crítico está expondo corretamente o pensamento do seu opositor?

O verdadeiro filósofo é aquele que não se contenta com as primeiras impressões, para quem a verdade está sempre lhe escapando por entre os dedos. A Filosofia é a busca do saber, não a sua posse. A "descoberta da verdade" é o fim da Filosofia.

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  1. Exatamente: mentes estagnadas, acovardadas e maliciosas essas que tornam o "ouvir falar" em um argumento definitivo; mas é simplesmente para refutar as opiniões contrárias a seus vícios, maus costumes e modos de vida desregrados, a começar por não terem se dado ao trabalho de sequer estudar a respeito do assunto em questão.

    Obs: "...Sol que girava em torno do Terra..." - "da Terra..."

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  2. Eis a resposta: http://www.elielvieira.org/2009/09/resposta-glauber-ataide-verdades.html

    Não foi bem uma "reposta", foi mais uma reafirmação das questões que eu levantei no nosso diálogo que não foram abordadas por você no seu texto.

    O texto, em si, eu concordo.

    Abraço!

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  3. A paz, Glauber!

    Outro dia vi o link do seu blog e vim conhecer. Parabéns pelo excelente trabalho virtual. Hoje me tornei seu seguidor. Aproveitando, quero convidar-lhe para conhecer o Genizah um blog de apologética cristã, notícias e humor. Contamos com um time de editores e colaboradores diversificado e inteligente.

    Esperamos você por lá e, se gostar, acompanha a gente!

    Um abração, do seu mais novo leitor,

    Danilo Fernandes

    www.genizahvirtual.com

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  5. Glauber,
    Saúde.

    Uma dúvida; esta frase:
    "O verdadeiro filósofo é aquele que não se contenta com as primeiras impressões, para quem a verdade está sempre lhe escapando por entre os dedos. A Filosofia é a busca do saber, não a sua posse. A "descoberta da verdade" é o fim da Filosofia."

    O amigo quer dizer que a filosofia tem como propósito a descoberta da verdade, ou que a verdade é o fim - no sentido de término - da filosofia?
    Quem sabe as duas ao mesmo tempo!

    Um abraço fraterno,
    Marcus.

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  6. Anônimo11:02 PM

    Você é mais uma evidência da inutilidade do nosso sistema acadêmico. Vive a regorjitar o que os tapados dos seus professores marxistas/maconheiros estúpidos eles mesmos já vomitaram em seu cérebro. A Inquisição, que você demoniza, levava esse nome justamente porque inquiria, ou seja, perguntava e deixava o acusado responder. Ela era oposta ao costume processual dos bárbaros, onde o princípio da acusação era o que prevalecia, podendo ser reforçada por um juramento e ainda sustentada em duelo. Você, belo filosofante, só sabe repetir aquilo que qualquer um diz. Para isso, não é necessário cursar a Academia. Vá estudar com o Lula.

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  7. Caro revoltado,
    O que faz é um desserviço.
    Entenda, o senhor não compreendeu que as coisas por aqui não se dão como em arquibancadas. Glauber argumentou, você pode contra-argumentar - simples assim.

    Embora não satisfeito, segue um fraterno abraço,
    Marcus.

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  8. Anônimo11:52 PM

    O verdadeiro desserviço é a existência de pessoas que louvam o comunismo. Não me venha com esse seu bom-mocismo. Um comunista é tão ou mais criminoso quanto um nazista. Deveria ser preso por apologia ao crime cada vez que se dissesse comunista. Vá abraçar seus camaradas, não aceito saudações de cúmplices de genocídio. Passe bem. Ou não.

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  9. Caro Cristão Revoltado,

    Talvez um dos caminhos pelos quais Nietzsche identificou o ressentimento cristão foi ao observar pessoas como você.

    Mas enquanto para Nietzsche os instintos do ressentimento são a causa da invenção de outro mundo no qual a afirmação da vida representasse as maiores malignidades e abominações imagináveis, para você, especificamente, este instinto de ressentimento se encontra escancarado, à flor da pele, e não apenas na esperança do além.

    Seus comentários me são engraçados. Tanto é que vou deixá-los aí, não irei excluí-los, apesar de ter razão para isso.

    A resposta que tenho para você é o riso. Sim, como ensinou o Zaratustra na "Festa do burro". O ensinamento é que devemos rir dos dogmas. Ha ha ha ha ha ha ha ha!

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  10. Olá, Marcus,

    Realmente, essa frase que você apontou ficou ambígua, mas ela está correta nos dois sentidos, como você também percebeu.

    A Filosofia pressupõe que existe uma verdade a ser descoberta e que ela pode ser conhecida.

    No entanto, para que a Filosofia seja possível, faz-se mister uma areté (a virtude como meio-termo) aristotélica no filosofar. É preciso evitar duas atitudes extremistas que são contrárias entre si: o total ceticismo e o dogmatismo.

    O total ceticismo invalida a empreitada filosófica em seu nascedouro, pois se não há verdade, tudo irá se resolver na retórica, no convencimento.

    O dogmatismo, por sua vez, engessa o conhecimento, pois julga já ter alcançado "a verdade", e com isso condena a sua busca à inutilidade.

    A atitude do filósofo é um ceticismo moderado, talvez mais próximo daquele defendido por Sexto Empírico (lembrando que existem várias escolas de ceticismo, mas há um tipo de ceticismo que se confunde com a própria atitude filosófica).

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  11. Resumindo, então, meu comentário anterior, a "descoberta da verdade" é o fim da Filosofia no sentido de que 1) se alguém julga ter alcançado a verdade, não há mais razão para se filosofar; e 2) o filosofar é uma busca por uma verdade que se encontra "escondida", além das primeiras impressões da realidade.

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  12. Anônimo12:15 PM

    Ok, filosofante, dado o seu raciocínio primário, evocando elementos óbvios, como o meu "nick" para cair mais uma vez em um arrazoado clichê, respeitarei a sua paixão de adolescente pelo encantador de garotinhos que morreu louco. Talvez quando sejas limpo das espinhas da tua puberdade intelectual venhas a filosofar com menos paixão e mais razão. A propósito: és um devoto muito fervoroso, poderias muito bem ser um crente! Eu é que te rio. Mas espero que superes a fase.

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  13. Ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha ha !!!!!!!

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  14. você realmente acha que o pensamento estagnou-se durante a idade média? Esta é uma visão formada a partir da uma ideologia, aquela que busca enfrentar a religião para tirar o poder da igreja, ideologia já bem refutada, inclusive. É certo que a igreja católica usou da idéia de Deus para impor seu poder sobre boa parte do mundo e combater um grupo de pessoas - aqueles que iam contra sua influencia. Porém esta é meramente uma questão política e não deve ser estendida a todo pensamento religioso. A visão apresentada por você, inclusive, foi outra gerada por motivos políticos e que, no fim, só gera acusação indevida contra um grupo de pessoas - os religiosos. E isso sim é uma prova de ignorância.

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