Educação ou adestramento superior?

Há algo de preocupante na educação superior brasileira. Muitos cursos que possuem o título de "superior" estão, mais do que nunca, a serviço apenas do mercado. Forma-se alunos de acordo com a receita prescrita pelo selvagem capitalismo. "O mercado exige formação 'focada' na área, então nós oferecemos essa formação 'superior' em 2 anos". Já estamos cansados de ouvir isso na mídia. Mas não pense que estou me referindo apenas a cursos tecnólogos. Isso se aplica também a vários cursos na modalidade bacharelado, principalmente na área das ciências aplicadas.
As pessoas buscam formação apenas para trabalhar. Fazer um curso rápido (ou talvez um bacharelado), que tem o título de "superior", pra depois arrumar emprego. Mas o problema não é esse. Nada de censurável em se buscar qualificação profissional. Isso é necessário, deve ser feito, incentivado e é louvável. O problema é que as pessoas estudam somente para isso. Aí está o problema. Vou repetir: o problema é estudar somente para trabalhar, como se o fim último do conhecimento fosse tão somente o domínio da técnica.
E que tipo de profissional essas faculdades estão formando? Ora, elas não estão formando cidadãos conscientes. Elas não estão formando pessoas que sabem refletir de forma crítica sobre a sociedade, o mundo e suas próprias vidas. Elas estão formando profissionais que podemos chamar de "apêndices de máquinas". Pessoas que sabem fazer alguma coisa. E só.
Marx e Engels, quando falando sobre a cultura de classe burguesa na obra "Manifesto do Partido Comunista", afirmam que
"A cultura, cuja perda o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas." (Grifo meu)
É interessante notar que dentro dessa cultura burguesa a que Marx e Engels se referem está inserido um plano de educação, do qual faz parte esse tipo de ensino superior ao qual nos referimos aqui. É uma educação que serve primariamente a uma classe dominante, e só secundariamente ao indivíduo e à sociedade. O capital quer pessoas especializadas. Mais uma vez, nada de censurável em ser especializado. A especialização em si é algo desejável, louvável e aconselhável. O problema está, no entanto, que a especialização tem se tornado alienação. O especialista tem se tornado um alienado. É um indivíduo com um conhecimento fragmentado do mundo, que carece de uma formação mais ampla, que lhe permita ter uma visão de conjunto da realidade. A esse propósito, Blaise Pascal, filósofo e matemático do século XVII, afirmava que seria ótimo se fosse possível conhecer muito de tudo. Mas, como isso não é possível, é mais belo conhecer um pouco de tudo do que muito de pouco. Mas podemos ir além dessa posição de Pascal e afirmar que, mesmo não sendo possível conhecer muito de tudo, é possível conciliar a duas posições, conhecendo um pouco de tudo e muito de algum pouco.
Se é verdade que a divisão social do trabalho exige qualificação especializada, não é menos verdade que o homem é um ser integral, e que ele tem, por natureza, desejo de conhecer. A fragmentação do conhecimento tem fragmentado e dilacerado o próprio homem. Além disso, a especialização é dissociável da alienação. Um não implica necessariamente o outro. Mas isso não interessa à burguesia. Ela não quer homens. Ela não quer formação ampla. Ela quer resultados. Ela quer lucros. Ela quer máquinas. E sem contestação. E disso resulta que a educação "superior", enquanto servindo primariamente ao capital, não passará de um adestramento de homens em máquinas.

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  1. Você acabou de me fortalecer em minhas decisões, afinal quero fazer engenharia para mais tarde ter condições de estudar filosofia, ´psicologia, historia, ser político, mas volta e meia ficava pensado se estava no caminho errado, entretanto agora fiquei mais tranquilo.

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