Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels: breve resumo

Manifesto do partido comunista, de Marx e Engels - um resumo


O Manifesto do partido comunista, de Marx e Engels, é uma das obras mais importantes dos últimos séculos. Sua leitura é indispensável para todos aqueles que buscam compreender não apenas a sociedade em que vivemos, mas também o curso da história recente. Ninguém pode se considerar um indivíduo realmente educado sem possuir familiaridade com o conteúdo desta obra, de modo que ignorar seu conteúdo significa desconhecer não apenas a principal análise crítica de nosso mundo, mas também as ideias que inspiraram uma enorme parcela da humanidade a buscar alternativas ao capitalismo no século passado.

Um fantasma ronda a Europa: o espectro do comunismo

Marx e Engels iniciam o Manifesto afirmando que um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. A primeira frase da obra é também o primeiro convite para compreendermos o contexto em que este pequeno texto foi redigido e publicado, pois tomando a afirmação em seu valor de face, parece que o comunismo era de fato uma ameaça em fins de 1847 e início de 1848.

A questão, porém, não é bem assim. O comunismo, embora fosse uma força já reconhecida por todos os outros partidos da Europa ocidental, não era uma ameaça concreta e imediata naquela conjuntura. Uma semelhança com nosso período, porém, é a força do nome comunismo e o medo que inspira a seus adversários, de modo que a atualidade desta afirmação leva poucos leitores a de fato investigarem o contexto de 1848.

Imagine este texto sendo lido, por exemplo, em 1917 na Rússia ou em 1918 na Alemanha. Houve revoluções socialistas em ambos os países nestes respectivos anos, embora os desdobramentos tenham sido bem diferentes. O que importa chamar a atenção aqui, no entanto, é a atualidade do Manifesto naquele período histórico: o que de fato deu a este pequeno texto a aura que ele hoje possui foi a recepção a partir da Revolução Russa, tendo em vista que entre o lançamento das duas primeiras edições - de 1848 até 1872 - o texto praticamente caiu em esquecimento.

O que Marx e Engels queriam dizer então como a frase “um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo”? Se a ameaça política do comunismo não era real quando os escritores redigiram o texto, o que eles queriam dizer? Um de seus objetivos era deixar claro que aquele fantasma estava, na verdade, mais na imaginação política do que na efetividade política. Havia de fato a chamada Liga dos Comunistas, organização secreta responsável por encomendar a redação deste texto, mas perceba que esta liga, além de secreta, não era exatamente um partido como aparece no título da obra: Manifesto do Partido Comunista. Os comunistas existiam e tinham de fato uma organização - e embora não fosse um partido político como conhecemos hoje, já era capaz de inspirar medo em seus adversários.

Burgueses e proletários

No primeiro capítulo, Marx e Engels afirmam que a história de todas as sociedades até aqui é a história das lutas de classes. Percebam que esta frase é uma generalização, o que ajuda a explicar um pouco da força psicológica que lhe confere um efeito tão impactante. Generalizações, no entanto, são vulneráveis e devem ser evitadas. É por isso que em uma nota de rodapé acrescentada por Engels à edição de 1888 ele explica melhor tal passagem e completa: toda a história escrita é a história das lutas de classes. Depois da redação do Manifesto, Engels prosseguiu em seus estudos e descobriu que algumas sociedades pré-históricas eram sociedades comunistas - o que veio a ser chamado de comunismo primitivo.

Em comparação com as sociedades anteriores, a burguesia desempenhou um papel revolucionário. Isso não significa, no entanto, que ela continue sendo uma classe revolucionária nos dias de hoje. O que eles afirmam é que, para se manter, a burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os meios de produção e, consequentemente, as relações de produção. Já em 1847, Marx e Engels percebiam essa tendência, e hoje ela se manifesta de maneira ainda mais acentuada. Os avanços tecnológicos e as mudanças nas formas de produção que observamos atualmente são uma consequência direta dessa necessidade do sistema capitalista de se renovar continuamente. A burguesia, enquanto classe, precisa revolucionar as máquinas e os processos produtivos para continuar existindo. Essa lógica do capitalismo faz com que, todos os dias, surjam novas tecnologias e formas de produção industrial. O sistema capitalista exige essa renovação constante, pois, sem ela, o sistema entra em crise e colapsa.

Proletários e comunistas

No segundo capítulo, Marx e Engels abordam a relação entre proletários e comunistas. Se na primeira sessão o foco estava na relação entre burguesia e proletariado, agora Marx e Engels se dedicam a esclarecer o papel dos comunistas dentro do movimento proletário. A primeira pergunta que surge é: qual é a relação entre os comunistas e o proletariado em geral?

Os autores afirmam que os comunistas não formam um partido separado dos outros partidos de trabalhadores. Eles não têm interesses distintos dos interesses do proletariado como um todo. No entanto, Marx e Engels apontam duas características que diferenciam os comunistas dos demais partidos de trabalhadores: a visão internacionalista e a capacidade de considerar o futuro do movimento.

Essas duas características são centrais para definir o que é ser comunista. Primeiro, ser internacionalista significa que os comunistas não se limitam aos interesses nacionais, mas pensam no proletariado como uma classe global. Na época de Marx e Engels, muitos trabalhadores focavam apenas em questões nacionais, mas os comunistas entendiam que o capitalismo é um sistema global e, portanto, a organização dos trabalhadores também deve ser internacional. A burguesia criou um mundo à sua imagem, expandindo o capitalismo por todo o globo, de modo que os trabalhadores, da mesma forma, também precisam se organizar em uma escala global para enfrentar essa realidade.

A segunda característica é a visão voltada para o futuro do movimento. Enquanto alguns partidos trabalhistas se limitam às conquistas imediatas, os comunistas articulam as ações do presente ao futuro da luta de classes. Isso significa que os comunistas não se contentam apenas com ganhos pontuais, tais como aumentos de salários e redução da jornada de trabalho, mas estão sempre pensando em como essas vitórias contribuem para o avanço da revolução e para a emancipação final do proletariado.

Essa parte do texto esclarece o que Marx e Engels compreendiam por abolição da propriedade. Eles respondem a algumas acusações lançadas contra os comunistas afirmando que seu objetivo é de fato acabar com a propriedade privada, mas eles se referem unicamente àquela propriedade que serve para explorar e subjugar os trabalhadores – a casa ou o carro de cada indivíduo continuam sendo propriedade privada individual no comunismo. O que deve ser abolido é a propriedade burguesa, não a propriedade individual.

Literatura socialista e comunista

Na terceira parte do Manifesto Comunista, Marx e Engels fazem uma revisão crítica da literatura socialista e comunista da época, discutindo as várias correntes já existentes. A principal lição que podemos tirar desta parte é a de que não existe um único tipo de comunismo ou socialismo. Ao criticar diferentes correntes socialistas, eles deixam claro que, quando alguém critica o comunismo, é importante sempre perguntar: "Que tipo de socialismo está sendo criticado?" A tradição marxista não é a única, e ao longo da história, várias formas de socialismo surgiram, muitas das quais Marx e Engels consideravam reacionárias.

Uma dessas correntes é o socialismo reacionário, chamada por Marx e Engels de socialismo feudal. Trata-se de uma tentativa de certas classes sociais em declínio – como a aristocracia feudal – de lutar contra a burguesia. No entanto, ao invés de promover uma verdadeira transformação social, essas correntes buscavam um retrocesso ao feudalismo, tentando convencer os trabalhadores de que a exploração feudal era "menos pior" que a exploração capitalista. Marx e Engels alertam que esse tipo de socialismo é perigoso, pois teme o proletariado e não busca uma verdadeira emancipação.

Outro tipo de socialismo criticado por Marx e Engels – e que se mostra surpreendentemente atual - é o socialismo ascético, ou socialismo cristão. Esse tipo de socialismo defende um retorno à simplicidade, condenando o consumismo e propondo um estilo de vida austero, quase monástico. Marx e Engels rejeitam este tipo de socialismo e afirmam que ele não resolve os problemas do capitalismo, mas apenas propõe uma forma moralista e individualista de lidar com eles. Ainda hoje vemos traços destas correntes em movimentos tais como o minimalista, como se uma uma mera diminuição do consumo fosse solução para as contradições do capitalismo.

Marx e Engels criticam também o socialismo pequeno-burguês. Apesar de fazer análises detalhadas e perspicazes do capitalismo, este tipo de socialismo falha na hora de propor uma transição real para o socialismo, tendo um caráter utópico e reacionário: suas propostas não enfrentam as raízes do capitalismo de maneira revolucionária. Assim como as correntes anteriores, este socialismo também teme a revolução e busca soluções pacíficas e gradativas, o que vai de encontro à proposta revolucionária de Marx e Engels.

Posição dos comunistas em relação aos diversos partidos de oposição

No último e breve capítulo, Marx e Engels retomam partes da segunda parte do texto e discutem a relação dos comunistas com outros partidos de trabalhadores. A mensagem aqui é essencialmente a mesma: os comunistas compartilham dos interesses gerais do proletariado, mas têm uma perspectiva internacionalista e mais ampla. 

O encerramento do Manifesto é impactante. Marx e Engels reafirmam seu projeto revolucionário de forma clara e, com uma linguagem incendiária, dizem que seu objetivo é a abolição da ordem social existente e a construção de uma nova sociedade comunista. Eles concluem com sua famosa chamada à ação: "Proletários de todos os países, uni-vos!", convocando os trabalhadores a uma revolução internacional, mostrando que eles não têm nada a perder a não ser suas correntes. Este desfecho revela que o Manifesto não é apenas um texto teórico, mas um chamado à ação – por isso o nome Manifesto

Lições sobre o Manifesto do Partido Comunista

O Manifesto comunista é um livro extremamente rico. Sua leitura nos oferece um fecundo material para discutirmos diferentes aspectos da teoria marxista, da sociedade capitalista e da organização dos trabalhadores – além, claro, das questões relativas aos partidos políticos. Mesmo sendo uma obra tão curta, seu conteúdo é denso e exige várias leituras ao longo dos anos. Cada vez que voltamos ao Manifesto, percebemos algo novo e conseguimos conectar as ideias de uma maneira diferente.

Para quem deseja compreender a profundidade da crítica ao capitalismo e as bases da organização comunista, o Manifesto é um ótimo ponto de partida . É um texto que, sem dúvida alguma, devemos revisitar constantemente para compreender melhor os desdobramentos históricos e os desafios de nosso mundo hoje.

Glauber Ataide